Roberto Causo

O Universo GalAxis Chega aos Quadrinhos

Por convite do editor de quadrinhos Dario Chaves, o Universo GalAxis chega às histórias em quadrinhos com a história “Dragões da Cromosfera”, escrita por Roberto Causo, editada por Chaves e desenhada por Marcello Abreu. A HQ vai sair no super-álbum Arte Sequencial Brasileira, que trará mais de 70 criadores, em 300 páginas de quadrinhos exclusivamente nacionais.

 

Arte de capa de Osnei Roko.

 

Arte Sequencial Brasileira celebra o álbum de 1996 Brasilian Heavy Metal, também editado por Chaves e que apresentou então mais de 70 criadores em 200 páginas de HQ. A capa de Arte Sequencial Brasileira é de Osnei Roko, e entre os roteiristas e artistas da nova iniciativa recordista estão gente de peso nos quadrinhos nacionais, como Laudo, Sam Hart, Eduardo Schloesser, Oliver Quinto, Francélia Pereira, Wellington Diaz, Thais Linhares, Toni Rodrigues, Renato Peters, Aldefran Melo, Ronilson Freire, Roberto Kussumoto, Edson Aran, Júlio Shimamoto, Ofeliano de Almeida, Ana Pepper, Bira Dantas, Gazy Andraus, Denis Sevlac, Guilherme RaffideAlex Mir, Alex Genaro, Lancelott Martins, Maurício Lima, Dauana Marcondes, Hamilton Kabuna, Willian Hussar, Carlos Paul, Edgard Guimarães, Richard Cinti, Cláudio Alves, Marcelo Caribé, Reinaldo Snek, Muna Porto, Marcos Porto, Pedro Ponzo, Dadí, Debbie Garcia, Gian Danton, Dennis Oliveira, Ciberpajé (Edgar Franco), Fabbio Fratt, artAntiacida, Roberta Cirne, Alex Lei, Gil Mendes, Décio Ramirez, Paul R. Talbot, Ana Pepper, Xanditz, J. B. Bastos, Renoir Santos, Gabriel Billy, Flavio B. Silva, Elias Martins, Benson Chin, Emmanuel Merlotti, Daniel Ching, Caio Zero, Jonas Schiaffino, Raphael Gritti, Júlio Magah, Juliano Kaapora, Daniel Saks, Robson Reiz e Rogério Nunes.

Desenhos de Marcello Abreu.

Roberto Causo já planejava há anos entrar com o Universo GalAxis na área dos quadrinhos, dirigindo as histórias do Ciclo Serviço Colonial a ela, mas as condições nunca surgiram. Por isso, ele e a Sociedade GalAxis estão muito entusiasmados com a publicação de “Dragões da Cromosfera” em Arte Sequencial Brasileira. A história faz parte da série As Lições do Matador, e foi mencionada em um trecho do primeiro romance da série, Glória Sombria: A Primeira Missão do Marador (2013). Jonas Peregrino, o protagonista da série, é o narrador da HQ.

O financiamento coletivo do álbum estará no Catarse até o dia 22 de março de 2025. Acesse a página aqui.

 

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Financiamento Coletivo de “Fronteiras Siderais”

Antologia de Space Opera Trará um Novo Conto da Série As Lições do Matador, “Terroristas, ou De Kuiper para a Terra, com Amor”

 

 

Começou em 17 de dezembro de 2024 a campanha de financiamento coletivo da antologia original Fronteiras Siderais: Contos de Space Opera, da Editora Mundo. O crowdfunding acontece pela plataforma Catarse.

Antes chamada tentativamente de “Ecos do Espaço”, a antologia Fronteiras Siderais é organizada por Mario Cavalcanti & Paolo Pugno, trazendo um bom conjunto de autores, num mix de novos e veteranos: Anderson dos Santos CostaDanilo De Villa AnastácioEduardo Ishie AkiraFlávio Medeiros JuniorGerson Lodi-RibeiroPedro CoppolaRebeca Cerqueira dos SantosRenato A AzevedoRoberto Causo e Roberto Fideli.

“Terroristas” faz parte do Ciclo Serviço Colonial da série As Lições do Matador, e apresenta o protagonista da série, Jonas Peregrino, como parte da tripulação do destroier Noronha em missão sigilosa para anular uma ação terrorista que busca desviar um cometa visando um choque com a Terra. As situações dessa história foram mencionadas brevemente no primeiro romance das Lições do Matador, Glória Sombria (2013).

A equipe da campanha produziu ilustrações de inteligência artificial para cada história incluída no livro, disponíveis na página do Catarse correspondente. Aqui, aquela que ilustra “Terroristas”:

 

 

A campanha vai ficar online por sessenta dias. Para saber mais ou apoiar, clique em Campanha Fronteiras Siderais no

 Catarse.

 

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Marcello Branco Resenha As Noveletas das Lições do Matador

As Noveletas da Série As Lições do Matador

(Ciclo Pós-Retração Tadai)

Marcello Simão Branco

 

 

Importante fanzineiro (é cocriador do Megalon com Renato Rosatti), jornalista e professor de Ciência Política, Marcello Branco tem acompanhado As Lições do Matador desde o início, resenhando o romance Glória Sombria: A Primeira Missão do Matador no Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica, editado por ele e Cesar Silva. Aqui, faz a primeira avaliação conjunta das noveletas da série, no Ciclo Pós-Retração Tadai.

 

 

Este artigo irá comentar as quatro noveletas já publicadas dentro da série As Lições do Matador, todas parte do Ciclo Pós-Retração Tadai, quando o protagonista da série, Jonas Peregrino, já é um militar respeitado por suas façanhas em combate, em especial na condução de batalhas na guerra contra os alienígenas tadais, na qual a humanidade se envolveu na sua expansão pela galáxia. Mas na mesma medida que é admirado, Peregrino também desperta inveja e inimizades junto aos outros blocos políticos terrestres que haviam juntado forças para derrotar o inimigo em comum.

De certa forma, as noveletas têm algo de um romance fix-up, que apresenta histórias de um mesmo universo ficcional numa sequência de eventos, apesar dos textos poderem ser lidos de forma independente. Cada história tem uma energia e sentido próprio, mas lendo-as todas de uma só vez, o conjunto se reforça!

Estamos diante de uma space opera militar de muitas qualidades. Na criação das aventuras, em sua narrativa vívida e com personagens interessantes, no contexto político complexo, na perspectiva ética e humanista de um militar — o que poderia, numa visão estereotipada, soar como inverossímil. Mas, sobretudo, no campo de batalha: do esforço visível de Causo em descrever as tecnologias bélicas disponíveis e nas ações de combate, empolgantes, tanto nas estratégias como nos desdobramentos. Quase como se estivéssemos presentes, o que dá um sentido de tensão e suspense bastante acentuado.

Como já visto no romance Glória Sombria (2013), encontramos a humanidade do século 25espalhada pela Via Láctea, vivendo nas chamadas Zonas de Expansão, principalmente na Esfera, a região mais rica, e de forma pacífica com algumas civilizações alienígenas. Contudo, a Terra continua dividida internamente em três blocos políticos principais: Latinoamérica, Aliança Transatlântico-Pacífico e a Euro-Rússia. Apesar disso, atuam juntos contra a ameaça comum dos misteriosos tadais: alienígenas com grande poder tecnológico e bélico, e que lutam apenas com seus robôs.

 

“Descida no Maelström”, a primeira história das Lições do Matador, apareceu na antologia Futuro Presente: Dezoito Ficções sobre o Futuro (2009).

Depois de uma batalha contra as forças da Latinoamérica, os tadais deixaram a Esfera. Alguns falam em “retirada” outros, como o Almirante Túlio Ferreira, líder militar da Latinoamérica, em “retração”. Neste contexto é que ocorre a primeira história, “Descida ao Maelström” (2009), na qual uma missão dos euro-russos busca verificar se há tadais orgânicos ocultos em uma base no planeta gasoso Phlegethon. Para esta incursão especial é solicitada a presença de Peregrino, cedido pela Latinoamérica. Mas a missão reserva muitas surpresas e reviravoltas. Tanto no que se descobre de terrível sobre os tadais, quanto no propósito verdadeiro da presença de Peregrino.

Esta noveleta se inspira no clássico de Edgar Allan Poe, “Uma Descida ao Maelstrom” (“A Descent into the Maelström”; 1841), sobre uma pessoa que sobrevive a um naufrágio e um redemoinho. Apesar de seguir situações semelhantes, a aventura em Phlegethon consegue ter o seu mérito próprio, indo além da homenagem. Primeiro, na descrição da batalha, depois no contato de Peregrino com os nativos do planeta gasoso, que me lembrou de outra história memorável da FC, “Encontro com Medusa” (1971), de Arthur C. Clarke. Enfim, o maelström vivido por Peregrino é um relato intenso e poderoso.

O início da noveleta “Trunfo de Campanha” (2011) me lembrou de Stratos, a cidade situada nas nuvens do planeta Ardana, vista no episódio “Os Guardiões das Nuvens” (“The Cloud Minders”; 1969) da série clássica Jornada nas Estrelas. Isso porque a nova aventura de Peregrino o leva ao planeta Cantares, onde ele chega a um hotel que flutua acima da superfície.

Após a difícil missão em Phlegethon, em que quase perdeu a vida, Jonas Peregrino aumentou sua importância política, mesmo que a contragosto. Resultado ou não da última contenda, os tadais saíram de cena, e isso tirou o manto de hipocrisia que vigorava na aliança estratégica dos blocos terrestres. Sem o inimigo comum, tornou-se explícita as rivalidades políticas e as articulações para que cada um obtenha mais poder que o outro.

 

 

Assembleia Estelar: Histórias de Ficção Científica Política (2011) incluiu “Trunfo de Campanha”. Arte de capa de Vagner Vargas.

Em “Trunfo de Campanha” (2011), Peregrino é convidado a apoiar a campanha eleitoral de um governador que deseja liderar a Latinoamérica. Sua adesão é importante, devido, justamente, à popularidade que almejou com suas vitórias militares. Mas, por ver nesta disputa um possível acirramento das rivalidades entre os blocos terrestres, ele decide por não apoiar ninguém. Contudo, a linda emissária do senador lhe apresentará um argumento final que deixará ainda mais clara as reais intenções por trás do desejo por seu apoio.

Tive o prazer de selecionar e publicar esta noveleta na antologia internacional Assembleia Estelar: Histórias de Ficção Científica Política (Devir Brasil; 2011). Afora o assunto em si, a história traz especulações interessantes sobre a convivência política dos povos na galáxia, e seus sistemas de representação política e os direitos de cada minoria.

Em contraste com a ação bélica e eletrizante da primeira história, sobressaem-se as intrigas e estratégias políticas, e é nítido o desconforto de Peregrino em ter de lidar com tudo isso. Afinal, ele é um militar e não um político. Mas seus valores éticos e sua visão política sensata de longo prazo é, este sim, um trunfo. Se não à campanha em si, ao equilíbrio político necessário entre os blocos políticos terrestres.

 

 

Space Opera: Jornadas Inimagináveis em uma Galáxia não muito Distante (2012), traz a noveleta “A Alma de um Mundo”. Arte de capa de Hugo Vera.

Em “A Alma de um Mundo” (2012), Peregrino parte numa missão secreta com a Força-Tarefa Estrela de Prata. Mas nem ele e nem a tripulação conhecem ao certo o caráter de sua missão. Ao chegar ao sistema estelar binário de HOPS-2428, sem nome no catálogo astronômico da Latinoamérica, eles entram em contato com uma força do Povo de Riv, que chama o sistema de Afssel-Mssadohr. Peregrino é informado por um documento lacrado que ele deve assumir o comando da nave, para contragosto da capitã e parte de sua tripulação.

A presença de Peregrino havia sido solicitada pelos alienígenas do Povo de Riv, e em princípio giraria em torno do resgate de um povo historicamente submetido à escravidão e que, em sua origem, tinha descendência dos próprios tadais. Por isso, agora, estariam sob o risco de serem feitos prisioneiros e torturados pela Aliança Transatlântico-Pacífico, que, para esta missão suja, enviou os Minutemen, uma força militar auxiliar — milicianos mercenários que lembram os originais norte-americanos da Guerra de Independência do país, no distante século XVIII. Mas para além de evitar a captura, há mais em jogo, conforme o Povo de Riv revela a Peregrino: a descoberta de ruínas arqueológicas de instalações tadais. O conflito militar torna-se, então, iminente, e Peregrino contará com o auxílio do Povo de Riv para ser bem-sucedido e preservar um segredo tão importante.

 

 

Sagas Volume 4: Odisseia Espacial (2013), traz a noveleta “Tengu e os Assassinos”. Arte de capa de Fred Macedo.

A quarta narrativa é “Tengu e os Assassinos” (2013). O incansável Peregrino tem a incumbência de salvar Harumi Harai, jovem nobre de uma parte da monarquia japonesa originária de uma antiga dinastia do Japão, e que vive no bucólico planeta Fruto do Sol, arrendado pelos alienígenas tuiutineses. No passado longínquo, os tuiutineses abriram o planeta para a colonização humana, por razões nunca esclarecidas.

Devido a uma intriga palaciana, Harumi pode ser morta e Peregrino deve resgatá-la. Ocorre que ela prognosticou seu destino nefasto e, mais que isso, o que poderá ocorrer com a própria humanidade em sua jornada universo afora. Isso é o que a torna tão especial e, no fim das contas, estaria por trás da arriscada empreitada.

Se nas duas primeiras histórias o plano de ação se dá no mundo mais concreto da realpolitik, nas duas últimas é acrescentado um aspecto mais místico e cultural. Pois são apresentadas duas civilizações alienígenas que convivem com os humanos em sua aliança contra os tadais, a partir de outras concepções sobre a vida e sua relação com o universo. Esta alteridade só enriquece mais o conjunto das histórias, acentuando o necessário aspecto da diversidade num cosmos habitado por diferentes sociedades.

À política se soma a antropologia, num quarteto de noveletas instigantes e inteligentes. É a mostra efetiva de um autor em pleno desenvolvimento de sua forma criativa, e que ilustra as muitas e ricas possibilidades de criação de um universo de space opera de uma perspectiva multicultural e à brasileira.

—Marcello Simão Branco

 

“A Alma de um Mundo” também existe como o e-book Kindle Space Opera: A Alma de um Mundo (2012).

“Tengu e os Assassinos” também apareceu na coletânea de Roberto Causo, Brasa 2000 e Mais Ficção Científica (2020).

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As Lições do Matador em Nova Antologia de Space Opera

 

A Editora Mundo, responsável pela importante revista Histórias Extraordinárias, entra no campo dos livros de ficção científica brasileira. A editora anunciou oficialmente em 23 de novembro de 2023 que iria montar duas antologias originais: “Sussurros Cósmicos”, dedicada ao horror cósmico; e “Ecos do Espaço” (título provisório), dedicada à space opera. Mario CavalcantiPaolo Pugno são os organizadores de ambos os títulos.

 

Em 3 de maio de 2024, a editora anunciou os selecionados para “Sussurros Cósmicos”, depois de terem firmado a data do anúncio como 15 de abril — aparentemente, o número de submissões foi tão elevado que foi preciso mais tempo para a avaliação. Roberto Causo, o criador do Universo GalAxis, está entre os selecionados com o conto “Amanhecer Eterno em Proxima Centauri B”. O conjunto completo de selecionados é: Alex Rebonato, César Matos Ribeiro da Silva, Henrique Gomes Gonçalves, Johnnas da Silva Oliveira, Luciano Nascimento dos Reis, Luis Cristiano de Souza Parente, Marco Antônio Baptista Rodrigues, Roberto Causo, Rodrigo Ortiz Vinholo e Silvio Kurzlop.

 

Em 31 de julho, a Editora Mundo anunciou os selecionados para a “Ecos do Espaço”, também com atraso em relação à data inicial de 15 de julho, e pela mesma razão. Roberto Causo também estará nesse livro, com o conto “Terroristas, ou De Kuiper para a Terra, com Amor”, uma história da série As Lições do Matador, dentro do Ciclo Serviço Colonial. A história se passa em 2464 AD, após os fatos narrados no conto “Garimpeiros“, de 2020 — visto na antologia Multiverso Pulp Volume 2: Ópera Espacial, editada por Duda Falcão para a AVEC Editora.

 

 

“Terroristas, ou De Kuiper para a Terra, com Amor” é portanto mais uma história que mantém a presença das Lições do Matador no mercado brasileiro de ficção científica, e em uma antologia de space opera que promete ser muito substancial. Há também um sabor especial no fato de Roberto Causo aparecer, mais uma vez, em uma antologia com uma história de seu filho, Roberto Fideli. (A primeira foi Não Existem Humanos Inteligentes, editada por Lu Evans & Saulo Adami.) O conjunto completo de selecionados é: Anderson dos Santos Costa, Danilo De Villa Anastácio, Eduardo Ishie Akira, Flávio Medeiros Junior, Gerson Lodi-Ribeiro, Pedro Coppola, Rebeca Cerqueira dos Santos, Renato A Azevedo, Roberto Causo e Roberto Fideli.

 

Em 16 de julho, Mario Cavalcanti enviou e-mail aos colaboradores da Histórias Extraordinárias informando que estava deixando a posição de editor da revista, para cuidar de outros afazeres, mas permanecendo no projeto de “Sussurros Cósmicos” e “Ecos do Espaço”. Paolo Pugno e seus companheiros da Tatanka Assessoria Criativa assumiram a revista. “A transição está ocorrendo nestas últimas semanas e obviamente sempre há algumas dificuldades no caminho”, Pugno nos contou em 4 de agosto, “mas estamos conseguindo ultrapassá-las, com esforço da equipe e ajuda e consultoria inestimáveis do Mario, afinal ele também tem muito carinho pela editora e a revista. A ideia é manter o formato inalterado enquanto nós da Tatanka vamos acumulando experiência nos meandros editoriais … Estamos bastante animados em dar continuidade a estas atividades e publicações, e contamos com a participação do nosso público, que até agora nunca falhou em nos dar suporte!” Ele também informa que “Sussurros Cósmicos” tem a sua edição em estado avançado, e que deverá sair antes de “Ecos do Espaço”. Aqui no Universo GalAxis, desejamos boa sorte a todos.

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Shiroma: A Leveza de uma Anti-Heroína

Shiroma: A Leveza de uma Anti-Heroína

por Romy Schinzare

 

Foto: Romy Schinzare

 

 

 A destacada contista Romy Schinzare narra nesta crônica literária a sua reação a Shiroma, protagonista da série Shiroma, Matadora Ciborgue, do Universo GalAxis, e como ela a inspirou a criar Diana, a robô feminina do conto epônimo de 2022. Romy Schinzare é autora das coletâneas Mandrágora (2017), Contos Reversos (2018) e Apócrifos do Futuro (2022), todas pela Editora Patuá.

 

 

 

Romy Schinzare

Cresci na época da popularização da TV. De uma família matriarcal, meu olhar logo se voltou para as mulheres mágicas que o pequeno aparelho levava até a nossa sala. Encantei-me com a beleza e força que carregavam: a Mulher-Maravilha, que tudo resolvia com o auxílio do laço da verdade; a astuta Jeannie, que bem sabia usar da magia para deixar a vida mais leve e suportável; e as peripécias de A Feiticeira e sua família peculiar. Neste último, muito me divertia a idosa tia Clara que, de forma encantadora, se atrapalhava ao fazer feitiços, obtendo resultados desastrosos e a paciência da sobrinha em corrigir tudo sem expô-la ao ridículo. Essa personagem idosa e imperfeita me cativava…

Esses e outros programas de ficção, contribuíram para minha leitura de mundo e de palavra e, sem dúvida, ajudaram a despertar em mim o amor e o prazer pela ficção científica. Talvez as heroínas nascidas em seriados de televisão ou que migraram das histórias em quadrinhos para este meio de comunicação tenham acalentado os sonhos de muitas meninas brasileiras na década de 1960 e atuaram como modelos de mulheres guerreiras, capazes de elaborar estratégias e de executá-las com competência, intervindo no mundo a seu redor, modificando-o enquanto se modificavam.

A esses seriados, e com o advento da escola, logo se somaram os livros. Os livros entram em nossa vida e nos fisgam, sem entendermos bem os labirintos que percorreram para nos encantar. Verdade é que chega um momento em que a gente diz: amo este livro! Pronto, a magia se fez para o autor e para o leitor. Assim aconteceu comigo e todos os livros de Agatha Christie. Claro, outros se seguiram, mas adentrei o universo da ficção e do mistério guiada pelas mãos dessa autora brilhante. O interessante é que crescemos e deixamos várias coisas pelo caminho, mas o encantamento fica ali, pronto para nos despertar da letargia cotidiana. Foi assim que Shiroma entrou em minha vida, como num déjà vu, no entanto, agora guiada pelas mãos de uma anti-heroína, de uma trans-humana, uma ciborgue implacável, impiedosa.

Shiroma é força, ação, revolta, vingança, amor e ódio. Shiroma é produto de uma tecnologia mais avançada, geneticamente aperfeiçoada, resultado de uma história pessoal e resposta à vida. Trans-humana usada, manipulada, consciente, inteligente, objetiva, Shiroma é o vulcão em erupção, jorrando lava acumulada por anos. Destruindo os caminhos por onde passa para, num momento bem próximo, fazer brotar novas vidas. Matadora que reúne em si a frieza e a sensibilidade. Pode-se observar a antítese na crueldade com que elimina seus alvos e na fragilidade e enfrentamento de dilemas pessoais através do contato com as vozes de sua mãe morta, Mara Nunes, ou a de si mesma quando menina, numa concha do mar que funciona como uma espécie de referência moral e ética em suas histórias.

A trama da anti-heroína está no livro Shiroma, Matadora Ciborgue, de Roberto Causo. Romance composto por episódios cronologicamente relacionados, ambientados no século XXV, época de expansão da raça humana através da colonização de outros mundos. A personagem vai sendo desvelada aos poucos aos leitores, enquanto executa missões ilegais que servem à conveniência de outros. Conflitos sociais e morais afloram na personagem durante este trabalho. Sente-se desconfortável com o papel que desempenha e questiona-se a todo o momento, pensando em como se livrar da condição de submissão a que está atrelada.

 

Shiroma inspirou diretamente a criação de minha personagem Diana, uma fembot implacável quando se trata de agir em prol de salvar seu povo da escravidão da indústria do cinema americano.” —Romy Schinzare.

 

Tudo tem início quando a anti-heroína sobrevive a uma emboscada armada pelos humanos Tera e Tiago, que termina com a morte de sua mãe e sua captura. Após o que, ainda menina, passa a ser criada e usada pela dupla que a escraviza e explora suas habilidades para transformá-la numa matadora profissional. Ela vai adquirindo consciência do lugar que ocupa, mas outros elementos a impedem de agir de imediato libertando-se de uma condição incômoda. Essa ânsia por liberdade, por poder traçar seu próprio caminho, chama a atenção nesta ciborgue.

Shiroma inspirou diretamente a criação de minha personagem Diana, uma fembot implacável quando se trata de agir em prol de salvar seu povo da escravidão da indústria do cinema americano.[1]  Numa comparação humilde, as anti-heroínas dialogam por serem “mulheres” que avançaram para além dos limites da vida, que rompem padrões pré-estabelecidos pela sociedade. Que correm riscos e buscam novas realidades e verdades. Às vezes más e odiadas, outras, boas e amadas. Que carregam em si sentimentos conflitantes numa clara demonstração de humanidade. Shiroma busca sua liberdade, rompendo o padrão de ter a identidade anulada por outros; Diana, a liberdade de seu povo. Ambas assassinas implacáveis, no entanto, a matadora ciborgue demonstra ser mais anti-heroína que a outra. Diana não tem um perfil tão bem delineado ou mesmo complexo quanto o de Shiroma. A vida de Diana dura um conto, a de Shiroma uma saga bem maior.

Traz um bem enorme à alma cruzar com uma anti-heroína na literatura. Saber que ser humano significa essencialmente ter imperfeições, falhas de caráter e motivações ambíguas. Saber que nem tudo é virtuosismo ou gravita entre as polaridades simples do bem e do mal. Desvelar nuances mais profundas do humano, que questionam e subvertem as expectativas culturais e sociais, gera em nós a reflexão sobre nossa própria moral e ética. A consciência de que as decisões humanas são complexas e podem exigir escolhas moralmente ambíguas faz bem. Essas personagens são dínamos dessa discussão.

Shiroma e Diana são isso. Esse convite a desafiar o pré-estabelecido, esse desafio à leitura confortável e simples de sujeito e de mundo. Agem dentro da complexidade de um contexto que exige cada vez mais que sejam travadas lutas internas conflituosas para que ocorram transformações e crescimento. Ambas são a viabilização ficcional da exposição do drama da opressão feminina. Shiroma conquistou posição de destaque definitivo na literatura brasileira, e torço para que continue inspirando reflexões sobre a condição feminina em outros leitores, como inspirou em mim.

Romy Schinzare

 

 

[1] No conto “Diana”. In Apócrifos do Futuro, de Romy Schinzare. São Paulo: Coleção Futuro Infinito, Editora Patuá, 2022.

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