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Lançamento de “Mestre das Marés” na Loja Omniverse

A festa de lançamento do romance das Lições do Matador, Mestre das Marés, de Roberto Causo, acontece na Omniverse Livraria e Hobby Store no dia 2 de fevereiro, a partir das 16h00.

 

Graças ao interesse do proprietário da Omniverse, Luis Mauro Gonçalves Batista, Mestre das Marés terá espaço na tradicional loja nerd/geek de São Paulo. Luis Mauro já oferece à sua clientela o melhor preço de Mestre das Marés (Devir Brasil), em relação ao sugerido pela editora. Para honrar esse interesse, e dos leitores que prestigiarem o lançamento, Taira Yuji, o designer chefe e fundador do Estúdio Desire — associado com Roberto Causo e o artista de ficção científica Vagner Vargas, na administração e promoção do Universo GalAxis — produziu um poster exclusivo para a Omniverse, oferecido gratuitamente a quem adquirir lá qualquer livro das séries As Lições do Matador e Shiroma, Matadora Ciborgue.

O poster apresenta em tamanho grande (A3) a fabulosa arte de Vagner Vargas para a capa de Mestre das Marés, mostrando o trio de naves da classe Jaguar que se aproxima de um planeta devastado por um buraco negro, visto ao fundo. Traz ainda os logos do Universo GalAxis, do Estúdio Desire e da Omniverse. Vagner também estará no lançamento, autografando o poster e conversando com os presentes.

 

Vagner Vargas

 

O poster exclusivo da Omniverse Livraria e Hobby Store. Arte de Vagner Vargas. Design gráfico de Taira Yuji.

A Omniverse é localizada na Rua Teodureto Souto, N.ºs 624/630, térreo-loja. Bairro Cambuci, São Paulo-SP. Lançamento a partir das 16h00.

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Publicado o Segundo Romance da Série As Lições do Matador

Em outubro, a Devir Brasil, de São Paulo, colocou o romance Mestre das Marés, de Roberto Causo, em pré-venda na Amazon. A pré-venda foi até o dia 25 de outubro.

 

Arte de capa de Vagner Vargas.

Mestre das Marés é o segundo livro da série de ficção científica As Lições do Matador, seguindo Glória Sombria: A Primeira Lição do Matador, lançado em 2013. Traz uma aventura mais densa e uma situação mais estabelecida do que o livro anterior, que serviu para apresentar o protagonista Jonas Peregrino e a complicada situação política e estratégica em que ele é enfiado ao ser transferido para a região da galáxia conhecida como A Esfera.

Com uma forte arte de capa de Vagner Vargas, o livro tem 288 páginas, contra as 174 de Glória Sombria. Conta ainda com arte quarta capa do experiente artista brasileiro Bruno Werneck; arte de frontispício de R. S. Causo; e insígnias pelo designer Daniel Abrahão. A diagramação é de Tino Chagas.

O enredo trata de uma missão de resgate comandada por Peregrino. Uma estação espacial de pesquisa é destruída por naves-robôs tadais em um sistema fora da Esfera. Os cientistas e o pessoal técnico e de segurança refugia-se em um ex-gigante gasoso cuja atmosfera foi arrancada por jatos relativísticos lançados por um buraco negro. Nos subterrâneos desse mundo devastado, encontra-se uma máquina tadai capaz de anular a energia sísmica desencadeada pela catástrofe. Invadir as instalações da máquina e obter dados sobre ela torna-se a nova missão de Peregrino, e com o ansioso aval dos cientistas. Mas ha um esquadrão de robôs-exterminadores no caminho, e reforços inimigos a caminho…

Mestre dás Marés dá continuidade em grande estilo, à space opera militar que é a série As Lições do Matador, com combates em terra e no espaço, e uma intriga entre os cientistas que pode sabotar todos os esforços de Peregrino e seus comandados. Para complicar ainda mais, desde que testemunhou pela primeira vez a magnitude do poder do buraco negro Firedrake, Peregrino é atirado em um turbilhão de medo e insegurança.

 

Arte de Bruno Werneck.

 

O livro está à venda na Amazon.com.br.

 

 

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“Galileu” Inclui “Glória Sombria” em Recomendação de FC Nacional

A versão online da revista de divulgação científica Galileu publicou em 4 de maio uma lista de ficção científica brasileira recomendada pela redação. A lista inclui Glória Sombria: A Primeira Missão do Matador (Devir Brasil, 2013), primeiro romance da série As Lições do Matador, de Roberto Causo.

 

Arte de capa de Lambuja.

A postagem acompanha uma edição nas bancas, com matéria de capa sobre ficção científica assinado por Nathan Fernandes, a Galileu N.º 322. A revista tem uma diagramação moderna e arejada, inspirada na americana Wired. A matéria foi editada por Giuliana de Toledo, a editora-chefe da publicação, e é centrada no argumento de que a ficção científica representa a realidade presente e é um instrumento importante para compreendê-la, em especial nas suas questões políticas e sociológicas. De fato, o artigo discute basicamente as tradições da utopia e distopia, citando, entre vários, Cláudia Fusco, Nelson de Oliveira, Manuel da Costa Pinto e os professores Carlos Berriel e Esther Solano.

A capa feita pelo artista Lambuja tem a rica iconografia da ficção científica na literatura e no cinema explodindo das páginas de um livro incendiado. Referência direta ao clássico distópico Fahrenheit 451 (1953) de Ray Bradbury, que, desde a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, voltou a ser best-seller juntamente com 1984 (1949), de George Orwell. Noutra parte da revista, a coluna “Tubo de Ensaios”, o psiquiatra Daniel Barros também aborda a FC, muito apropriadamente, inclusive, destacando sua amplitude ilimitada.

A matéria online traz o título “8 Livros para Conhecer a Ficção Científica Brasileira” e a interessante chamada: “Do steampunk à space opera, produção nacional trabalha problemas da sociedade com um fundo de ciência.” É muito raro que esse tipo de recomendação parta de uma publicação como a Galileu, voltada para ciência e tecnologia junto a leitores mais jovem.

Sobre Glória Sombria, a postagem no site Galileu Online diz: “A obra de Roberto de Sousa Causo acompanha a atuação do tenente Jonas Peregrino na Esquadra Latinoamericana do século 25. O oficial deverá enfrentar seus próprios limites e as divisões internas das Forças Armadas para treinar uma unidade de elite que combata os tardais, alienígenas que ameaçam dizimar um planeta.”

A seleção é rica, eclética e bastante atual. Os títulos elencados são:

1. O Caçador Cibernético da Rua Treze, de Fábio Kabral.

2. Eros Ex Machina: Robôs Sexuais, de Luiz Bras, ed. (a única antologia listada)

3. Trilogia Padrões de Contato, de Jorge Luiz Calife.

4. Deixe as Estrelas Falarem, de Lady Sybylla.

5. A Lição de Anatomia do Temível Dr. Louison, de Enéias Tavares.

6. Glória Sombria, de Roberto de Sousa Causo.

7. V.I.S.H.N.U., de Eric Asher, Ronaldo Bressane & Fabio Cobiaco (o único romance gráfico listado).

8. As Águas Vivas Não Sabem de si, de Aline Valek.

 

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Veja a Capa do Novo Livro das Lições do Matador

O artista de ficção científica Vagner Vargas é o autor da ilustração de capa do romance Mestre das Marés, o segundo livro da série As Lições do Matador, de Roberto Causo.

 

A imagem criada por Vagner Vargas representa uma flotilha de naves da classe Jaguar, parte do 28.º Grupo de Reconhecimento Profundo comandado por Jonas Peregrino, aproximando-se do planeta Firedrake Gamma-M. Antes um planeta gigante gasoso, foi devastado pelo jato relativístico emitido por um buraco negro — que aparece no fundo. A diagramação é de Tino Chagas, e a quarta capa inclui imagem do artista brasileiro Bruno Werneck, um requisitado artista de produção de filmes de Hollywood e de videogames.

Os Jaguares de Peregrino estavam a caminho de uma outra missão, quando foram desviados para fora da Esfera porque uma estação espacial científica que estudava o buraco negro foi atacada por naves-robôs tadais. O Almirante Túlio Ferreira, comandante máximo da Esquadra Latinoamericana da Esfera, determinou que a aquisição de dados de inteligência sobre os misteriosos alienígenas conhecidos como “tadais” é a prioridade número 1 dos Jaguares.

Essa prioridade também obriga Peregrino a descer, com um grupo de combate de infantaria embarcada, à superfície de Firedrake Gamma-M, onde os cientistas sobreviventes estão refugiados. Lá, ele e seu pessoal ficam sabendo pelos cientistas que há uma máquina tadai desconhecida instalada nos subterrâneos do planeta, causadora de efeitos científicos inéditos. Alcançar essas instalações, com a ajuda da Chefe de Segurança Beatrice Stahr, e arrancar delas os seus segredos é a nova missão dos Jaguares — enquanto em órbita, um bloqueio é formado pela Capitã Helena Borguese para deter um enxame de naves tadais e impedir que elas baixem seus robôs-exterminadores até a superfície.

Arte de capa de Vagner Vargas.

“Com sua competência habitual, Roberto Causo conduz o leitor através de uma envolvente aventura interestelar. O Capitão Peregrino e sua equipe dos Jaguares penetram num sistema estelar destruído por um buraco negro gigante. Contando com o benefício das descobertas mais recentes da astrofísica e dos telescópios espaciais, o autor nos brinda com mais um exemplo notável da new space opera.”

—Jorge Luiz Calife, autor da Trilogia Padrões de Contato e Angela entre dois Mundos.

“Amálgama delicado de poesia clássica e ficção científica contemporânea, Mestre das Marés mostra-nos um Causo bem mais maduro do que em obras anteriores, com amplo domínio dos aspectos científicos do enredo … Constata-se, a cada novo livro, a evolução do autor, que se firma com segurança como um dos pilares da ficção científica brasileira.”

Henrique Flory, autor de Evolução e O Elo.

 

Mestre das Marés deve ser lançado pela Devir Brasil, como parte do selo Pulsar, em outubro de 2018.

 

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Leituras de Março de 2018

Março foi um mês de leituras diversificadas, mas com destaque para o inquietante romance de ficção científica Kindred: Laços de Sangue, de Octavia E. Butler, e para a polêmica avaliação das deficiências morais da literatura brasileira, feita por Martim Vasques da Cunha no estudo A Poeira da Glória.

 

Arte de capa de Dennis Beauvais.

Aliens Book 1: Earth Hive, de Steve Perry. Nova York: Bantam Spectra, 1992, 280 páginas. Capa de Dennis Beauvais. Paperback. Conheço Steve Perry da coluna que ele tinha no fanzine de Orson Scott Card, Short Form, em 2015 li um livro de sua filha, S. (de Stephani) D. Perry, Aliens: Criminal Enterprise — também parte dos tie-ins originais inspirados nas situações surgidas com o filme Aliens (1984, de James Cameron). Pai e filha têm uma escrita dura e feroz, como o assunto exige. Este romance, em particular, é inspirado pelo filme, cujas situações ele cita: um cabo veterano dos Colonial Marines e uma garota institucionalizada são os únicos sobreviventes de um surto dos aliens. Quando os militares decidem organizar uma expedição de coleta de espécimes em um mundo infestado por eles, o cabo é convocado e, no caminho, resgata a jovem do hospício. Ao mesmo tempo, na Terra um laboratório militar já trabalha no estudo dos organismos xenomorfos, quando uma seita fanática de adoradores dos alienígenas resolve invadi-lo e espalhar a infecção pelo nosso planeta. Só pelo resuminho dá pra sentir que a narrativa salta de uma situação para outra, o que resulta, quase que obrigatoriamente, numa certa superficialidade. Nem por isso o livro deixa de passar a impressão de retratar uma humanidade que, por razões militares, comerciais ou religiosas, caminha célere na direção do apocalipse alien. Há aí aquele problema de escancarar de um modo um pouco frugal a falência daquilo que os primeiros filmes tinham como objetivo maior: impedir que essa forma de vida infecciosa alcançasse o planeta Terra. E como vieram muitos outros romances originais de Aliens depois — eu li dois em 2015, para entrar no clima de terra devastada e de um confinamento claustrofóbico que tentei realizar no inédito “Mestre das Marés”, o segundo romance da série As Lições do Matador —, fica a sensação de que Steve Perry teria se precipitado ao entregar as joias da coroa tão cedo aos alienígenas.

De onde vem o interesse pelo universo criado por Dan O’Bannon e Ridley Scott, com Alien: O Oitavo Passageiro (1979)? Em grande parte, em razão do adversário da humanidade ser uma forma de vida que age cegamente, sem intenções, malícia ou razões estratégicas ou geopolíticas. Nem sequer uma civilização ela possui. A outra coisa é uma representação da humanidade atirada na galáxia arrastando consigo seus vícios e azares. Com Aliens: O Resgate (1986), Cameron introduziu o tema da FC militar e sublinhou ainda mais o cinismo criminoso da Companhia. Daí o naturalismo duro e cínico que predomina na série e nos livros e histórias em quadrinhos, destacando esse universo ficcional da idealização e do lado plástico e juvenil que temos em Star Wars, Star Trek, Guardiões da Galáxia e outras franquias. Os personagens parecem estar sempre espremidos entre o darwinismo brutal dos aliens, e o darwinismo social, empresarial, de uma humanidade que deveria ter aprendido alguma coisa de cá (o presente) pra lá (o futuro interestelar). São pontos de uma atitude crítica que vale tanto hoje, quanto valia em fins da década de 1970 ou durante a década de 1980. Talvez até mais.

P.S.: No Facebook, o tradutor Carlos Angelo lembrou que este livro é novelização da minissérie de quadrinhos Aliens: Outbreak, escrita por Mark Verheiden com arte de Mark A. Nelson e Ron Randall.

 

Sonetos do Amor Obscuro e Divã do Tamarit (Sonetos del amor oscuro; Divan del Tamarit), de Federico García Lorca. São Paulo: Folha de S. Paulo, Coleção Folha Literatura Íbero-Americana vol. 2, 2012, 88 páginas. Capa dura. Tradução e apresentação de William Agel de Mello. Falta poesia na minha dieta literária. Para diminuir essa deficiência, peguei outro dia este livro do celebrado Federico García Lorca, que oferece uma leitura rápida e intrigante, num livro de capa dura gostoso de manipular. Também dramaturgo, Lorca foi o poeta número um da Espanha no século 20, a vítima mais famosa do regime da facção anti-republicana da Guerra Civil Espanhola. O volume em questão abriga alguns dos seus últimos poemas escritos, distribuídos em dois livrinhos juntados aqui sob uma mesma capa. Consta que o primeiro, Soneto del amor oscuro (1936) só foi publicado parcialmente, por ter um conteúdo homossexual explícito. É um livro bilíngue.

O que salta aos olhos é a riqueza de imagens poéticas, às vezes de um certo hermetismo, e a intrusão o tema da morte e da violência no soneto de amor, de saudação do objeto de amor e de desejo. Há uma ironia dissonante aí, frente a doçura do soneto, e que compõe o principal efeito dos poemas. O mesmo teor persiste em Divan del Tamarit (1936), variando apenas os formatos de versificação — que incluem o gazel, uma forma de poema lírico-amoroso; e a casida, uma forma herdada da poesia árabe. Dessa última, “Da Mulher Estendida” se tornou minha favorita.

 

A Poeira da Glória, de Martim Vasques da Cunha. Rio de Janeiro: Editora Record, 2015, 628 palavras. Brochura. Ser um observador da ficção científica e outras formas de ficção de gênero no Brasil, como eu me imagino, significa também prestar alguma atenção a como a literatura brasileira se enxerga, se desenvolve e sente o papel da ficção popular. São poucos, é claro, os livros que realizam uma sondagem mais profunda e crítica da nossa literatura — e mais raros ainda aqueles que se debruçam sobre a ficção popular. Das minhas leituras, dá para citar exemplos como A Aventura Literária: Ensaios sobre Ficção e Ficções, de José Paulo Paes; O Espírito da Prosa: Uma Autobiografia Literária, de Cristóvão Tezza; e Muitas Peles, Luiz Bras.

Um modo de abordar a questão maior de onde se posiciona a ficção de gênero nacional nas nossas letras, é identificar e reconhecer as insuficiências da literatura brasileira como um todo, e confrontá-las com as faltas da literatura popular conforme percebidas pela crítica mainstreamA Poeira da Glória é um ensaio sobre o caráter da literatura brasileira, do século 19 ao presente, castigando suas tendências ao esteticismo e à falta de firmeza moral e do foco na liberdade interior da pessoa. É escrito num tom meio autocongratulatório e agressivo, mas o livro ainda é válido pelo que afirma e expõe. Cunha insiste que carece à literatura brasileira o foco em um eu íntegro que se expressa por um “fundo insubornável do ser”, expressão que ele toma do filósofo espanhol José Ortega y Gasset, para indicar autor e personagem que rejeitam a postura do “quietismo político” e do “estetização da realidade”. Ele também condena aquela crença de que apenas a literatura salva o brasileiro da penúria existencial do país, mesmo enquanto ela se esquiva de encarar de frente a dura realidade da vida. No processo, acusa Machado de Assis de “dissimulado” e adepto do “quietismo político”; Lima Barreto de apegado ao “esteticismo”; e Mário e Oswald de Andrade de, a partir e obras omo Macunaíma (1928) e Serafim Ponte Grande (1933), terem colocado a literatura brasileira em um “beco sem saída”. O que não dá para negar, até por ser uma afirmativa feita antes, em linhas gerais, por gente como José Paulo Paes, é que as práticas modernistas instauram

“o divórcio entre o leitor e o escritor, a separação entre os intelectuais que deveriam produzir uma obra para aprimorar a nossa imaginação moral e o público comum que gostaria de entendê-la, justamente para compreender a si próprio.

“Esse divórcio de sensibilidades nasce em definitivo com o Modernismo, mas se tornaria uma espécie de método nos anos posteriores, até chegar ao ápice na obra de Guimarães Rosa. E acontece algo mais, algo que já não percebemos porque esta cisão está impregnada em nossa visão de mundo: no anseio de escrever numa ‘língua brasileira’, esquecemos que a literatura é antes de tudo uma forma de comunicação entre os nossos semelhantes — e trocamos os dilemas morais da condição humana, os que nos transformam em pessoas, por um lugar, por este ente abstrato, que nem sequer tem uma identidade nacional, chamado Brasil.” —Martim Vasques da Cunha, A Poeira da Glória.

Cunha isola alguns nomes que escapam da tendência que ele condena: Cecília Meireles, Nelson Rodrigues, Otto Lara Resende e outro punhado. Sua análise vem até momentos mais recentes, e aborda gente como Raduan Nassar, Daniel Galera e Bernardo Carvalho. Cunha é Mestre em Filosofia e seu enfoque parte desse campo do conhecimento, de modo que nem sempre a terminologia crítica bate com o que estou acostumado. A discussão se baseia na concepção platônica e aristotélica do Bom, o Verdadeiro e o Belo, trindade expressa na obra de arte. Por aí, a beleza deve conduzir às dimensões mais profundas do ser. Segundo Cunha, na literatura brasileira a ênfase estaria apenas no Belo, com o esteticismo levando ao desprezo pelo Bom e o Verdadeiro, e expressando aí a superficialidade da conjuntura cultural brasileira. Mas como entender a questão do “fundo insubornável do ser”? É o eu profundo do sujeito, que resiste aos julgamentos e às pressões do meio social. A leitura de Os Intelectuais e as Massas (1992) , de John Carey, me vacinou contra Ortega y Gasset, mas é possível chegar a uma aproximação via self-reliance — o apoiar-se em si mesmo de Ralph Waldo Emerson e outros Transcendentalistas da Nova Inglaterra. Mesmo porque a cultura popular está cheia de exemplos do homem self-reliant — em filmes de western como Da Terra Nascem os Homens (The Big Country; 1958), e em personagens como o detetive Philip Marlowe ou o astronauta Perry Rhodan. O conceito soa mais democrático do que Ortega y Gasset e os tons apocalípticos do seu pensamento modernista, e certamente vem me guiando nos meus próprios escritos. Daí minha simpatia pela coragem de Martim Vasques da Cunha em afirmar essa carência da literatura e da cultura intelectual brasileira, mesmo que eu não tenha tanta certeza quanto a sua extrapolação desse quadro para o contexto da militância intelectual de esquerda, simbolizada, para ele, pela figura do crítico Antonio Candido. É claro, nem de longe quero sugerir que Cunha encontraria na cultura popular uma alternativa possível para o quadro que ele expõe.

 

O Lobo do Espaço, de Fausto Cunha. Rio de Janeiro: Ciranda dos Livros, 1984, 80 páginas. Ilustrado. Brochura. A ficha catalográfica desta novela de ficção científica é de 1977, o que não deixa de compor uma advertência para os apressados escritores de hoje. Fausto Cunha é um dos três ou quatro grandes nomes da FC brasileira da Primeira Onda, junto com André Carneiro, Dinah Silveira de Queiroz e Rubens Teixeira Scavone. Ramiro Giroldo estudou a sua obra na tese de doutorado “Alteridade à Margem: Estudo de As Noites Marcianas, de Fausto Cunha” (2012). Ele andou morando nos Estados Unidos e se metendo com a NASA. Nesse sentido, tanto esta novela quanto a fabulosa noveleta “Última Stella” (1981) demonstram que ele poderia ter sido um dos mais significativos autores nacionais de FC hard, se tivesse sido mais produtivo nessa área. Um dos aspectos interessantes da sua abordagem, é que, como conhecedor do gênero, Cunha não abria mão das lições da New Wave.

Uma concessão que O Lobo do Espaço faz à literatura juvenil é embutir aquilo que é basicamente uma história de aventura espacial como uma narrativa que um avô (o Capitão Argo) faz ao seu netinho, contando como foi uma expedição em particular, nos bons e velhos tempos em que ele pertenceu a uma organização explorador anônima, como parte da tripulação internacional da nave O Cão Prateado. A aventura se passa fora da Via Láctea, na galáxia Messier 101, a 20 milhões de anos-luz da Terra. Em um planeta em particular, eles descobrem uma agressiva forma de vida que se pendura como móbiles na atmosfera. São seres luminescentes que manipulam a luz para, por exemplo, destruir o módulo de pouso do herói e seus companheiros. Depois de tentar um contato com uma máquina telepática que projeta conceitos, o Capitão Argo deduz que qualquer tentativa de comunicação teria de se basear menos em ideias e mais em imagens, em cores. Eles descobrem que as criaturas recuam diante da cor amarela, e mais tarde se escondem no fundo do mar, protegidos por uma camada de plâncton vermelho. A partir da manipulação das cores, uma operação de resgate é organizada. É esse truque em particular que parece dar o toque de New Wave à aventura pulp da novela. A arte de capa é creditada a Guilherme Camarinha Martins, “sobre uma concepção de Fausto Cunha”, e tem cara de ser uma colagem a partir de ilustrações apanhadas em revistas da época. O livro é ilustrado com desenhos não-creditados, de estilos diferentes, mostrando astronautas, sondas e satélites artificiais, que também parecem ser resultado de apropriações semelhantes.

 

Kindred: Laços de Sangue (Kindred), de Octavia E. Butler. São Paulo: Editora Morro Branco, 2017 [1979], 446 palavras. Capa dura. Tradução de Carolina Caires Coelho. Um dos principais lançamentos do ano passado no Brasil, certificado pelos jornais O Estado de S. Paulo e Quatro Cinco Um, que o incluíram nas suas listas dos melhores lançamentos literários de 2017. Essa distinção, somada ao fato de ser um romance original de 1979, também puxa a orelha daqueles fãs que eternamente reclamam das editoras por publicarem clássicos da FC ao invés das novidades. Assim como O Livro do Juízo Final, de Connie Willis, é uma história de viagem no tempo, violenta e dedicada a expressar o nosso despreparo em lidar com a dura realidade do passado. As diferenças estão no fato de que, no livro de Willis, a viagem no tempo é algo muito institucionalizado e científico, enquanto que em Butler ela é involuntária e sem explicação. A escritora já havia aparecido no Brasil com um par de histórias na Isaac Asimov Magazine, e a Editora Arte & Ciência do escritor de FC Henrique Flory já havia tentado publicar Kindred aqui, no começo do século. Meu exemplar foi comprado na feira do livro da USP, ano passado.

O romance é narrado por uma mulher afro-americana de 1976, Dana, que, por esse processo misterioso, é projetada no passado anterior à Guerra da Secessão. Isso acontece toda vez que um garoto branco chamado Rufus se encontra em perigo mortal. O livro abre com ela retornando acidentadamente em uma dessas viagens, para perder o braço em uma parede — como no conto do brasileiro Jeronymo Monteiro, “Um Braço na Quarta Dimensão” (1964). Antes disso acontecer, Dana salva Rufus seguidamente. Ela passa semanas e meses em uma época em que a cor de sua pele a tornava vulnerável ao arbítrio dos brancos, mas, quando ela mesma está em perigo, retorna ao seu presente para descobrir que pouco tempo havia se passado. Em algumas ocasiões,  viaja com o marido Kevin, um caucasiano. Os dois acabam separados, e quando se reencontram no passado, retornam a 1976 juntos. Mas Dana ainda tem missões a cumprir no perigoso século 19. Butler é sensível não apenas ao sofrimento da sua heroína, mas também à desorientação de Kevin, que tem dificuldade para se readaptar ao presente, depois de passar anos no passado. O centro do romance, porém, é a relação dela com Rufus, uma pessoa que, mesmo enquanto reconhece a importância de Dana em sua vida, está tão ciente do poder que a ordem escravagista lhe dá, que não hesita em usá-la para obter o que deseja: Alice, a outra antepassada da heroína. A protagonista que colabora, de maneiras diferentes, embora a contragosto, em situações sexuais envolvendo outras pessoas também está presente na série Xenogenesis de Butler (cujo primeiro livro, Dawn, saiu em Portugal como Madrugada). Espelha, certamente, a situação dos escravos submetidos a um contexto de casamentos arranjados pelos senhores. Por tudo isso, o romance, embora não narre cenas tão fortes e degradantes quanto aquelas de The Underground Rairoad, de Colson Whitehead, e nem se dedique a uma panorâmica do escravismo nos Estados Unidos, é emocionalmente escruciante, com uma tensão presente página a página, resultando em uma narrativa de força rara e até superior ao premiado livro de Whitehead.

Assim como o conto em tom de crônica da brasileira Zora Seljan, “O Carnaval do Ano 2170” (1978), Kindred nos lembra de que a única máquina do tempo disponível para a humanidade é o aparelho reprodutor feminino, que conecta passado, presente e futuro. Essa viagem temporal está sujeita a todas as vicissitudes da condição humana. Como eu mesmo me dei conta, ao escrever meu romance A Corrida do Rinoceronte (2006), sobre um afro-descendente brasileiro que vai trabalhar nos EUA, onde se depara com a política racial local, é duro nos darmos conta de que, para estarmos aqui, foi preciso que uma mulher fosse abusada em algum momento do passado histórico e familiar. Butler enfrenta essa dura realidade de frente, como a sua heroína. Mas ela também se lembra da lição dos contos de Richard Wright (1908-1960), de que a violência contra o opressor é o primeiro sinal de que não se está completamente subordinado. A melhor leitura que fiz neste ano, até o momento.

 

Jean Nouvel, de Marco Casamonti. São Paulo: Folha de S. Paulo, Coleção Folha Grandes Arquitetos Vol. 8, 2011, 80 páginas. Capa dura. Tradução de Marcos Maffei. Minhas leituras sobre arquitetura não pararam no mês passado. Com este perfil do arquiteto francês Jean Nouvel, elas caem por completo no futurismo/pós-modernismo, com uma conexão, apontada pelo autor Marco Casamonti, com a abordagem historicista de Le Corbusier, em que o arquiteto retorna constantemente às soluções do passado para encontrar inspiração para seus projetos. Esteticamente, é um dos mais ricos exemplos, com um pendor para o detalhe que filtra a luz e colore o ambiente interno e a fachada externa de tons, reflexos pontilhistas e texturas — como se vê pela sugestão mourisca dos painéis externos do Instituto do Mundo Árabe, em Paris (e na capa do livro). Os interiores da ampliação do Centro de Arte Reina Sofia também são um grande exemplo, assim como a cúpula da Torre Agbar, ambiente de ficção científica no topo de um arranha-céu bem feio por fora. As fotos do Museu do Quai Branly, em Paris, sugerem uma concepção desarticulada, mas as do Teatro Guthrie (EUA) e as do Auditório Danish Radio (Dinamarca) comunicam a aura de projetos inspirados, em que há uma dança de planos e de subtons que impressiona. As concepções artísticas de alguns projetos — como o do Centro de Espetáculos de Seul e o da Filarmônica de Paris — lembram o toque surrealista do artista de FC Paul Lehr, enquanto o do Louvre de Abu Dhabi parece um disco voador pousado sobre um espelho d’água. A seção “O Pensamento” é composta de excertos do seu “Manifesto Lousiana” (2005), que evoca a física do macro e do micro, e denuncia que

“a arquitetura está aniquilando os lugares, banalizando-os e violando-os.” —Jean Nouvel, “Manifesto Louisiana” (2005).

Ao mesmo tempo, Nouvel clama por uma arquitetura que transcenda ao revelar geografias, histórias, cores, paisagens e horizontes. Palmas.

—Roberto Causo

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