Page 134 - Universo GalAxis Anual 2019
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DEDICATÓRIA
EM MEMÓRIA DE
DOUGLAS
QUINTA
REIS Devo ter conhecido Douglas Quinta Reis (1954- ro. Mais tarde, Douglas também publicaria o meu pri-
Foto: Finisia Fideli
2017) em alguma reunião do Clube de Leitores de meiro romance, A Corrida do Rinoceronte (2008).
Ficção Científica em São Paulo, em fins da década de Essa atitude leve com respeito à publicação de
1980. Recentemente, folheando a revista HorrorShow livros foi uma das características notáveis da atu-
Nº 1, recordei que ele esteve no programa da I Horror- ação editorial de Douglas. Raramente eu o vi rejeitar
um projeto — e quando isso ocorreu, foi em razão de
Con, uma convenção de fãs de horror que se reuniram
ROBERTO CAUSO da Sociedade Brasileira de Are Fantástica criada por servações dele. Ou em momentos em que a editora se
alguma rigidez do autor ou autora em relação às ob-
na Gibiteca Henfil em abril de 1995, numa promoção
reorganizava e certas áreas de publicação estavam
Cesar Silva, Marcello Simão Branco e Renato Rosatti.
momentaneamente suspensas. Essa abertura vinha
Em 2002, procurei Douglas — por intermédio do
primeiro da sua qualidade de leitor polivalente, sem
editor Silvio Alexandre, que na época trabalhava na
Devir — com o objetivo de sugerir a publicação dos
livros de ficção científica e fantasia de Orson Scott
também pelo entendimento de que a escrita, a leitura e
Card. Para minha surpresa, Douglas se mostrou tão fã preconceitos e familiarizado com vários gêneros. Mas
a publicação de livros são aventuras de descobrimento
de Card quanto eu. Ele me disse, inclusive, que tinha o — não apenas de talentos literários, mas da receptivi-
desejo de publicar toda a sua obra pela Devir. Algu- dade do leitor. Daí ele dispensar a obsessão de muitas
mas semanas depois, eu submetia à ele o projeto de editoras em perseguir tendências visando otimizar
publicar a coletânea de histórias A Sombra dos Ho- vendas, publicando mais do mesmo e condicionando a
mens, com as primeiras histórias da Saga de Tajarê, de criatividade ao mercado.
fantasia heroica, que eu havia iniciado anos antes nas Em 2005, Douglas me convidou para atuar como
páginas da revista de RPG Dragão Brasil. editor free–lancer. Rapidamente, criamos três linhas
Também para minha surpresa, o projeto foi aceito de livros: a Pulsar (ficção científica), que acolheu os
por Douglas sem grandes discussões. A decisão dele livros de Card; a Quymera (fantasia) e a Pentagrama
me trouxe um grande alento, pois na época eu vivia (horror). Mais tarde, desenvolvemos um projeto favo-
uma daquelas crises periódicas de dúvidas sobre a rito dele, a coleção Asas do Vento de livros de bolso
carreira e o ofício da escrita de FC e fantasia no Brasil, dentro de um formato inédito e nunca mais repetido
que costumam me acometer. posteriormente: em 9 x 15,5 centímetros, com capa
Escrevi mais duas histórias, além das duas que ti- semirrígida. E finalmente, a linha Enciclopédia Galác-
nham saído na Dragão Brasil, e o livro apareceu em tica, de estudos e referência na área da ficção es-
2004 com introdução de Braulio Tavares e capa de peculativa.
Lourenço Mutarelli — na época um nome muito asso- A Pulsar e a Asas do Vento foram as coleções mais
ciado à Devir como artista de quadrinhos, mas que a produtivas. A primeira acumulou 17 títulos, tendo pu-
editora, com o trabalho do Douglas, já havia revelado blicado autores importantes para a FC internacional
como romancista para o mainstream literário brasilei- como Card, Bruce Sterling, Arthur C. Clarke e Ursula K.
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