Page 42 - Universo GalAxis Anual 2019
P. 42
ROBERTO CAUSO
pesquisas. Foi justamente a estação científica o alvo do vitacional de tamanduá, ou entrar no caminho dos seus
ataque tadai. jatos de raios X — a energia presente neles era tão pode-
Peregrino não conseguira terminar o tereré que vinha rosa, que os escudos energéticos das naves estourariam
tomando durante a entrevista com Camila Lopes. Depois como bolhas de sabão. Além disso, com a explosão de um
que Helena Borguese trouxe as notícias, ele tinha posto dos seus três sóis, o sistema estelar estava em fran-
todo mundo para fora e ordenado que vestissem os trajes galhos, e o giro e a monstruosa emissão de energia do
espaciais. Ele mesmo saltara para dentro do traje que fi- buraco negro, repercutindo no gás resultante da explosão
cava guardado no armário do seu camarote, e correra até solar, pregaria peças nos instrumentos. Peregrino parti-
o passadiço da Balam. O alerta de combate foi dado com lhou o que sabia com a tripulação da Balam, da maneira
ele já sentado no assento de comando, enquanto lia as mais rápida e sintética que conseguiu, poucos minutos
novas ordens do Almirante Túlio Ferreira. Não importava antes do tunelamento.
o que havia dito a Lopes sobre o papel do 28º GARP na Quando estava já instalado no assento de comando da
estrutura da ELAE, a verdade era que sua unidade fora Balam, que funcionava como seção de comando da uni-
concebida para, além das eventuais tarefas de reconhe- dade, chegou uma mensagem expressa do CeCZARE —
cimento profundo, realizar operações especiais de alto “Um presente dos nossos amigos seguidores de Riv”, dizia.
risco e complexidade — embora não estivesse integra- Eram dados sobre Agu–Du’svarah, incluindo sua massa
da ao Comando de Operações Especiais, mas recebesse relativa, seu alcance de maré e o melhor ponto de che-
ordens exclusiva e diretamente do CeCZARE. E foi como gada do tunelamento, visando usar a massa e o arrastro
unidade de OpEs que tinham funcionado em Tukmaibakro, de referência do buraco negro para enganar os sensores
testando o novo emprego de um antigo armamento que gravíticos tadais e afogar parte das emissões neutrino–
lhes permitira servir a concentração tadai de belonaves taquiônicas de entrada na radiação do disco de fótons.
de bandeja ao corpo principal da Esquadra, sob o coman- Peregrino respirou aliviado, depois teve um momento de
do do Almirante Túlio. De fato, a missão a Iemanjá seria a dúvida, antes de repetir os dados a todas as subunidades.
sua primeira na função de reconhecimento — e possivel- O ponto de chegada não vinha como sugestão ou hipóte-
mente, de operações de superfície. se, e estava a apenas uma unidade astronômica de um
Reconhecer uma área da galáxia não significava sim- buraco negro com pouco menos de meia UA de alcance
plesmente aparecer e dar uma espiada. Havia prepa- de maré e, pouco além, o fatal Raio de Schwartzschild do
rações envolvidas. Não tanto quanto em uma operação qual só podia escapar aquilo que viajasse à velocidade da
especial, é verdade, mas ainda assim eles tinham reunido luz... Túlio às vezes parecia confiar cegamente nos seus
o máximo de inteligência e de equipamento necessário, aliados junto ao Povo de Riv. Assim como Peregrino era
visando a expedição até Iemanjá. As novas ordens de Túlio, obrigado a confiar cegamento no Almirante. Não. Até onde
porém, apanhavam–nos completamente de calças curtas. sabia, Túlio não era obrigado a confiar nos alienígenas.
Além do histórico e das coordenadas, contavam apenas Simplesmente aprendera a fazê–lo por alguma razão que
com dados rudimentares sobre a estação — chamada ainda não havia partilhado com ele.
Roger Penrose, em homenagem a um antigo matemáti- “Estou saindo com o capacete debaixo do braço”, o Almi-
co inglês — e os nomes das autoridades que a dirigiam. rante dizia. Ele informava que estava colocando algumas
Tinham também algumas fotos em 3D parcial, mostran- flotilhas da ELAE em alerta e enviando pelo menos uma
do uma elegante estrutura em forma de disco com uma para a ZSR. Talvez ele viesse com ela, talvez num grupo
larga saliência no topo, misto de torre de serviços e su- maior, mais tarde. O 28º GARP era composto de nove
perestrutura de antenas para sensores e instrumentos, vasos da nova classe “Jaguar”, de efetivos completos: a
com outra saliência na parte inferior — claramente um Balam, a Jaguarundi, a Maracajá, a Onça Pintada, a Lince
projetor de campo defensivo para filtrar as emanações Vermelho, a Gato dos Pampas, a Suçuarana, a Jaguati-
bolométricas radioativas do disco de fótons e de acreção rica e a Gato Preto. Havia ainda um Grupo de Observa-
do buraco negro. A Roger Penrose não era um conjun- ção–e–Comunicações, o 101º GOeC, reforçando a unidade.
to de peças pré–fabricadas — era um caro e específico Era composto de dois caças RAE–428R Olho de Carcará,
projeto astroarquitetônico que incluía uma área vazada na e uma nave operadora de comunicações modelo E–71C
seção superior, em leque duplo protegido por ultraplexi–G Albatroz — o cérebro e o coração do grupo. Uma dúzia
transparente revelando, como uma gigantesca claraboia, de naves talvez não representasse muita coisa, depen-
o que pareciam ser espaços de lazer e convivência. Nada dendo da quantidade de vasos tadais que encontrassem.
havia, porém, sobre suas capacidades e competências O reforço representado pelo grupo de reação que Túlio
tecnocientíficas. montava seria mais do que bem–vindo. Já sob as novas
Sabiam menos ainda a respeito do buraco negro e das ordens e com novas coordenadas de tunelamento em
suas vizinhanças. Apenas chegar ali já representava um seus computadores, a flotilha completou a entrada na
risco. Se tunelassem perto demais de Agu–Du’svarah, po- “Zona de Simetria Rompida”, a faixa dentro das velocida-
deriam ser apanhados em seu monstruoso abraço gra- des relativísticas, próxima ao limite luminal, na qual as leis
42