Page 70 - Universo GalAxis Anual 2019
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ENSAIO
COMBATENDO ROBÔS
Um artigo inédito do criador do Universo GalAxis . *
ROBÔS E DRONES
ROBERTO CAUSO enxames de naves–robôs dos alienígenas conheci- um supercérebro positrônico, para manter vivo o
seu império ameaçado por disputas e rebeliões. Há
No Universo GalAxis, a maior ameaça são os
um argumento racial de fundo, a noção de que os
arcônidas seriam uma “raça degenerada”, resulta-
dos como “tadais”. Essa característica tem uma ên-
fase maior na série As Lições do Matador, já que os
do de gerações de homens e mulheres indolentes,
mimados pela hipertecnologia e pelo poder absoluto
tadais concentram suas ações na região da galáxia
conhecida como “A Esfera” — justamente a área de
atuação de Jonas Peregrino, o protagonista da série.
também do recurso secreto do planeta Peregrino,
que traria de volta o vigor da raça. Enquanto isso,
A ideia certamente foi sugerida a mim pelas si- do seu império. Daí a necessidade dos robôs — mas
tuações da série alemã de ficção cien- fica claro que, na sua maioria, os arcônidas perde-
tífica Perry Rhodan, uma influência as- ram o impulso da aventura e da conquista. Justa-
sumida sobre o Universo GalAxis, tanto mente aquilo que os terranos liderados por Rhodan
que Perry Rhodan aparece como um têm de sobra.
produto cultural dentro desse universo: Mesmo que a descrição dos arcônidas como mui-
uma espécie de reboot chamado “Perry to brancos, louros, altos e elegantes permita se ver
Rhodan Ucronia: A Esfera”. A inspiração aí um discurso subversivo do racialismo cultural e
viria pela leitura dos primeiros ciclos da científico que embalou o delírio homicida do Terceiro
série criada em 1961 por K. H. Scheer Reich, o fato é que o componente racial é desinteres-
& Walter Ernsting (escrevendo como sante para a sensibilidade dos leitores atuais — com
“Clark Darlton”): “A Terceira Potência” e certeza, desinteressante para a minha própria explo-
“Atlan e Árcon”; talvez também c. ração do tema da luta contra robôs na FC.
No primeiro, o Major Perry Rhodan, Contudo, Perry Rhodan, assim como muito da FC
da Força Espacial dos Estados Unidos, que inspirou a série, pode ter sido presciente. Isso
Foto: Eugênio Frediani encontra no lado escuro da Lua uma nave vinda do acontece porque a humanidade parece estar hoje nos
planeta Árcon, o coração de um grande império ga- primeiros anos do uso em larga escala, ou em escala
láctico. Liderados por Thora e Crest, seus tripulantes estratégica, de robôs na guerra — robôs ou máquinas
fazem uma parada na Terra durante sua busca pelo semiautomatizadas, no estágio atual. São os drones
planeta Peregrino, um mundo volante que não orbita de ataque, empregados principalmente pelos Estados
em torno de um sol, mas vaga pela Via Láctea. Segun- Unidos em conflitos caracterizados por grande des-
do as lendas arcônidas, esse mundo guarda o segre- proporcionalidade entre as forças do país detentor
do da vida eterna. Rhodan convence os dois aristo- dos drones e os “combatentes inimigos”, militantes,
cratas de Árcon a buscar na Terra a cura da leucemia terroristas ou o que a retórica política momentânea
de que sofre Crest. É o primeiro passo para que a escolher chamar. São veículos aéreos não tripulados,
humanidade passe a figurar no cenário da galáxia. pilotados a distância, atacando alvos em terra que, na
Mais tarde, descobre–se que os arcônidas utili- quase totalidade das vezes, poucas condições têm de
zam armadas e exércitos de robôs, controlados por se defender ou de contra–atacar.
* Baseado em conferência dada por Roberto de Sousa Causo no IV Congresso Internacional Vertentes do Insólito Ficcional
70 na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, em 13 de novembro de 2018. Causo agradece ao Prof. Flavio García e seus colegas
da UERJ, pelo convite para falar no evento.