Page 85 - Universo GalAxis Anual 2019
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Como ela tomou contato com a FC brasileira? “Há nhuma delas sabia nada de ficção científica, e muito
uma professora em Porto Rico, Maria Tereza Ortiz, menos do assunto militar” — que é uma das tônicas
que foi convidada para falar em Cuba no evento de Glória Sombria, romance que pode ser definido
organizado por Raúl Aguiar, sobre o início da ficção como space opera militar.
científica em Porto Rico. E ela me convidou para ir Perguntada sobre qual foi sua reação ao ler o
falar sobre ficção científica brasileira ou fantasia. romance, Marissel disse, sorrindo: “Eu estava pronta
Eu: ‘Claro, por que não?’ Fiz um pouco de pesquisa, já para a união da América Latina e o Caribe, e dá
mas na verdade eu não tinha nada. Mas entrei nes- vontade de sair a lutar. O conceito da América Latina
se mundo e fiquei apaixonada. Está sendo a minha unida chamou bem a atenção.” No Universo GalAxis,
vida. Foi um relâmpago: ‘É isso o que quero fazer.’ a América Latina — ou Latinoamérica — forma um
Foi desde 2015 que estou trabalhando com ficção bloco político com suas próprias leis e autonomia na
científica. Naturalmente, procurei o que me apai- colonização de outros mundos, tendo suas próprias
xona mais, e encontrei no afro–futurismo a minha forças armadas — um ponto que, por outro lado,
nova linha de pesquisa.” trouxe dificuldades a Marissel.
Glória Sombria foi justamente o seu primeiro “Foi difícil, porque todos esses termos militares...
contato com a ficção científica brasileira. Em uma Eu não gosto das forças armadas, então entrar nes-
conversa depois do con- se mundo, pesquisar, foi uma
gresso de FC em Cuba, Raúl pesquisa de um outro mundo,
Transferido para a Esfera, onde os
não só o da ficção científica,
raças alienígenas são fustigados
“Causo é prolífico e sua obra va- Aguiar a abordou com o ro- humanos e membros de diversas
riada... Um promotor incansável da por naves-robôs, o Tenente Jonas
mas também o militar. Para
ficção científica e da literatura de mance e jogou a ideia de uma Peregrino enfrentará não apenas
gênero no Brasil, o trabalho de os seus próprios limites, mas as
Causo exemplifica o foco nacional da tradução: “‘Eu gostaria muito divisões internas dentro das Forças
mim foi difícil. Para elas, eu
No século 25, a humanidade já avan- Segunda Onda [da Ficção Científica] Armadas.
ça profundamente em direção ao do Brasil.” Peregrino era só mais um oficial
acho que gostaram direto de
núcleo da galáxia, a partir do seu de fazer mas não tem quem júnior da Patrulha Colonial, no dis-
berço, o Sistema Solar. —The Encyclopedia “Causo, um dos grandes nomes da FC hard brasileira, nos conduz por uma trama tante século 25. Sua carreira pare-
fazer a pesquisa, algumas ti-
São quatro as Zonas de Expansão of Science Fiction envolvente nas profundezas da Via Láctea. Glória Sombria prende o leitor da “Talvez um dos melhores escritores da ce condenada à mediocridade, até
traduza’, ele disse”, Marissel
Humana, mas é na quarta — a mais primeira à última página enquanto o herói se envolve em batalhas espaciais, ficção científica brasileira da atualidade.” que suas capacidades para o pla-
rica e vasta, conhecida como “A disputas políticas e o jogo do poder em uma força militar do futuro. Um digno Ronaldo Bressane nejamento de operações especiais
Esfera” — que os diversos blocos Roberto de Sousa Causo é autor sucessor de Tropas Estelares de Heinlein e da Guerra Eterna de Haldeman.” chamam a atenção do comandante
conta. “‘Ah, eu faço!’ E foi as-
nham familiares que estavam
políticos da Terra encontram o seu dos romances A Corrida do Ri- — Jorge Luiz Calife, autor da Trilogia Padrões de Contato. máximo da Esquadra Latinoame-
maior desafio: armadas de naves-
nas forças armadas, aí ficou
sim. A tradução demorou um
robôs empenhadas em aniquilar noceronte e Anjo de Dor, e das “Glória Sombria é o ótimo início de uma saga épica protagonizada por Jonas Pere- ricana na Esfera, a maior área em
todas as civilizações espaciais que novelas premiadas Terra Ver- grino, herói de perfil clássico (honrado e incorruptível), seguindo seu conflito que a humanidade encon-
cruzem o seu caminho, em nome de (III Festival Universitário de destino numa esfera de civilizações em expansão. O conflito com os tadais é in- trou em seu avanço pelos braços
mais fácil para elas. Eu tive
da supremacia absoluta dos seus Literatura) e O Par: Uma Novela tenso, mas não é o único. Outros, de natureza moral, cercam o matador-peregrino, da Via Láctea.
pouco porque eu era nova na
criadores.
Amazônica (Projeto Nascente 11). pondo à prova sua inteligência e integridade. Um herói para tempos sombrios, Enquanto os obstáculos se acumu-
com o qual os leitores gostarão de se identificar.”
Suas histórias de ficção científi- —Nelson de Oliveira, autor de Poeira: Demônios e Maldições. lam, a sua primeira missão é prepa-
mais dificuldades para entrar
Universidade de Porto Rico
ca e fantasia apareceram em onze rada: formar uma nova unidade de
países, incluindo Cuba, França, Glória Sombria combina ficção científica hard e space opera militar, elite, os Jaguares, e evacuar um pla-
e estava terminando minha
na tradução.”
Grécia, Portugal e Rússia. Vive em em uma intrincada aventura de tirar o fôlego. neta duplo ameaçado de destruição
São Paulo com esposa e um filho. total pelas naves-robôs dos tadais
Mais sobre a série Visite o site do autor em http://ro- — alienígenas implacáveis que nun-
A maior dificuldade en-
As Lições do Matador Mais sobre a série dissertação. Tinha que entre- ca mostram a sua verdadeira face.
bertocauso.com.br As Lições do Matador em GalAxis:
www.galaxis.aquart.com.br Mas como ser um matador, se o inimi-
contrada pela equipe de tra-
gar isso primeiro, para só en-
go se esconde atrás de enxames de
www.galaxis.aquart.com.br naves-robôs?
tão começar, e aí propus um Comandados por Peregrino, os
dução, porém, foi a escolha
dev333081
isbn 978-85-7532-516-2 Jaguares partem para Tukmaibakro,
do espanhol. “‘Qual espanhol
www.devir.com.br Capa: Vagner Vargas curso sobre tradução. Propor um sistema estelar onde eles se-
Design da capa: Tino Chagas rão testados até ao limite das suas
forças, e de seu senso de dever e
fazer o curso foi bem fácil. ‘Eu honra.
a gente vai usar?’ O espa-
quero dar esse curso’, e eles nhol de Porto Rico é muito
gostaram. A justificativa era que já tinha a proposta diferente, por causa do inglês. Nós somos colônia
de um curso de ficção científica brasileira, então dos Estados Unidos, temos muita influência do in-
era tipo uma continuação do que estavam apren- glês, temos muitas palavras que são anglicismos. E
dendo aqui, e eles podiam também pôr em prática. aí ficamos entre decidir em usar um espanhol que
A universidade gostou da ideia, por abrir possibili- chamamos ‘espanhol Univisión’, falado em um canal
dades, e os alunos também gostaram. Eu não es- de televisão, ou um espanhol caribenho ou latino–
perava tanto, mas seis alunas entraram no curso. americano. Aí decidimos pelo caribenho — até por
Só moças. Havia só um rapaz, mas acho que ficou causa de Cuba.”
intimidado quando viu a lista com as meninas...” A presença de palavras em inglês no romance
Marissel também observa que o curso foi in- também exigiu outras decisões. “Não sabíamos se
teressante porque muitas das inscritas há muito era melhor deixar o inglês, ou mudar na tradução,
tempo que não faziam um curso de Português. “En- mas decidimos deixar em inglês. E a última foi uma
tão o português delas estava um tanto fraco. Ne- palavra que ninguém sabia o que era: ‘tunelamento.’”
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